Recentemente ouvi um trecho de uma entrevista de Benjamin Steinbruch, onde, aos 21 minutos ao falar da Reforma Trabalhista, sugeriu a diminuição da hora de almoço, com um exemplo, no mínimo, leviano.

O Sr. Benjamin Steinbruch sugere que “(…) normalmente, não precisa de uma hora de almoço, porque o cara não almoça em uma hora. Você vai no Estados Unidos, você vê o cara almoçando, comendo sanduíche com a mão esquerda e operando a máquina com a mão direita.”

O empresário ainda cita que “se o empregado se sente confortável em poder, eventualmente, diminuir esse tempo, porque que a lei obriga que tenha esse tempo.”

Ao ver a entrevista, senti obrigação de defender, porque que a lei obriga esse tempo, muitas vezes, insuficiente.

Concordo quando ele diz que geralmente a pessoa almoça em 15 minutos, o tempo bruto é 60 minutos, mas o líquido é 15 minutos, as vezes nem isso. Se eu puder dar o exemplo do horário de almoço em uma metrópole, como a cidade de São Paulo, e mais precisamente dos trabalhadores da Paulista temos que, em 60 minutos, o trabalhador precisa:

  • Aguardar o elevador para descer;
  • Deslocar-se, no mínimo 100 metros, até um restaurante;
  • Se for um buffet por quilo, ele vai seguir na fila, caso contrário ele pode ou não aguardar uma mesa;
  • Vai se alimentar (em negrito, pois voltarei a falar sobre isso);
  • Pegará a fila para pagar a conta;
  • Deslocar-se novamente até a sede de sua empresa;
  • Aguardar o elevador para subir;
  • Passar o crachá de retorno no ponto.

Eu não conheço pessoas que aproveitam o tempo “não utilizado” do direito de almoço, pra ficar a toa. Muito pelo contrário, assim como o exemplo estadunidense, tem muita gente que almoça rápido para terminar suas tarefas antes ou até com mais calma.

Mas voltando ao almoço, que no dicionário quer dizer “a primeira das refeições substanciais do dia, depois do desjejum”. Entre o desjejum o almoço, o seu organismo consumiu níveis consideráveis de energia, e esse é o momento que seu corpo precisa, não só repor essas energias, como se preparar para o que vem depois.

Isto é, seu organismo, durante a jornada do dia, precisa de alimento para continuar produtivo. Essa tarefa de se alimentar tem que ser feita em um tempo confortável para que o organismo possa processar os nutrientes efetivamente.

Quem quiser saber mais sobre digestão, aconselho ler “O Discreto Charme do Intestino” de Giulia Enders. Com um texto simples e envolvente, você vai ter uma visão um pouco maior de como nosso organismo se comporta.

Por incrível que pareça, Benjamin Steinbruch, estava defendendo a Reforma Trabalhista, uma diminuição de jornada e consequentemente a diminuição dos custos trabalhistas.

Ora, se vamos diminuir ou flexibilizar a jornada, não podemos limitar ou coibir as necessidades fisiológicas de uma pessoa, mas é exatamente isso que geralmente acontece.

Antes de fazer qualquer modificação de jornada é preciso avaliar, primeiro, quanto tempo uma pessoa precisa para se manter produtiva, sem prejudicar sua saúde, e depois fazer os ajustes necessários.

Eu, como ergonomista, defendo jornadas de trabalho flexíveis, não ultrapassando 8 horas, incluindo 1 hora de almoço. Mas isso, não vai afetar em nada os custos trabalhistas.

O que diminuiriam os custos trabalhistas é uma reforma tributária. A reforma trabalhista não tem um fim financeiro, mas um objetivo de melhorar as condições de vida dos trabalhadores para que eles sejam mais produtivos e incluídos na sociedade.